top of page
Buscar
Foto do escritorLANAC

Anatomia aplicada ao crescimento e desenvolvimento infanto-juvenil

Esse texto é uma adaptação de um ensaio escrito em 2008 por Patrícia Teixeira Tavano para a revista Ensaios e Ciência, da editora Uniderp. O intuito é adicionar novas informações ao material e torná-lo mais didático para o ensino médico.


Lídia Duarte


O exame físico é grande importância para a prática médica. A fim de realizá-la de modo correto, é necessário que o avaliador tenha o conhecimento das peculiaridades anatômicas de crianças e adolescentes que diferem dos parâmetros para adultos e configuram achados normais para cada faixa etária.


Essas mudanças anatômicas começam na vida uterina e preparam a criança/adolescente para os desafios da vida adulta. Logo, se relacionam com as necessidades de adaptação às exigências do ambiente e são moldadas pelo desenvolvimento neuropsicomotor, que por sua vez é influenciado pelas potencialidades genéticas individuais.


Os neonatos apresentam proporcionalidade de comprimento entre membros superiores e inferiores, sendo essa característica presente até os 2 anos de idade. A diáfise dos ossos longos e escápula já tem ossificação, ao contrário das epífises.


A cabeça do recém-nascido tem em média 25% do comprimento total do corpo e o viscerocrânio corresponde a 12,5% do volume do neurocrânio; os ossos do crânio são unilaminares e são separados por bandas membranáceas, as suturas, que irão se calcificar unindo os ossos; elas são: mentópica (separando o osso frontal em duas partes, dando aspecto de continuidade da sutura sagital), intermaxilar e intermandibular. A mandíbula apresenta ramo curto e ângulo longo, e a maxila possui dimensões transversais e sagitais, maiores do que as verticais; encontram-se coroas inclusas em ambos os ossos. A criança nasce com 6 fontanelas: anterior e posterior, em números ímpares, e laterais anteriores e laterais posteriores aos pares. O meato acústico externo é reto, curto e cartilaginoso, contudo a orelha interna, cavidade timpânica, ossículos da audição e antro mastoide já possuem proporção semelhante à do adulto.


Ainda no recém-nascido, tem-se uma coluna vertebral com apenas as curvaturas primárias desenvolvidas, apresentando uma cifose funcional e uma caixa torácica com aspecto arredondado: dimensões ântero-posteriores e transversais muito próximas e eixo longitudinal curto; o diâmetro torácico semelhante ao abdominal e com costelas mais horizontalizadas. O apêndice xifoide é bem visível e, em ambos os sexos, há hipertrofia mamária devido aos hormônios maternos.


O timo está presente no mediastino anterior superior, com cerca de 10 a 15g. A traqueia apresenta diâmetro inferior a 3mm. O coração do neonato é grande e globoso, e se localiza mais transversalmente em relação ao mediastino; as paredes ventriculares começam a se espessar, e inicia-se a obliteração funcional do forame oval e do ducto arterioso, sendo que este último se fecha completamente em algumas semanas formando o ligamento arterioso.


No abdome, o fígado ocupa cerca de 40% do volume total, sendo normal a palpação de 1-3 cm do órgão abaixo do rebordo costal direito; em 14% dos lactentes é possível palpar 1-2 cm do baço, logo abaixo do rebordo costal esquerdo; o estômago apresenta o eixo longitudinal horizontalizado e capacidade de 30 mL; os rins são lobulados, e as suprarrenais se já estão localizadas superiormente a eles (a manobra para palpação de lojas renais é obrigatória nessa idade). Espera-se queda do coto umbilical 7 dias após o nascimento e cicatrização da ferida em torno de 12 a 15 dias.


Como a cavidade pélvica é curta e pouco profunda ao nascimento, a bexiga é intra-abdominal. No neonato feminino, o útero se apresenta com corpo curto e colo longo, por influência dos hormônios maternos, e algumas semanas depois regride, apresentando proporção 1:1. No neonato masculino, a próstata está aumentada e regride semanas após o nascimento.


No 1º mês, espera-se que tenha crescido em torno de 2 cm no perímetro cefálico. Até essa idade, o lactente pode apresentar estrabismo fisiológico.


No 2º mês, novamente o perímetro cefálico cresce em 2 cm. Ocorre o fechamento da sutura lambdóide.


O fechamento das fontanelas laterais anteriores ocorrem até o 3º mês de vida. Até essa idade, o forame oval deve estar totalmente obliterado; o ictus cordis é comumente palpado no 4º espaço intercostal esquerdo, fora da linha hemiclavicular. Nessa mesma época, espera-se que o perímetro cefálico reduza a sua velocidade de crescimento para 1 cm ao mês.


Durante a infância, ocorre a ossificação do capitato e hamato, ossos do carpo, nos primeiros 4 meses de vida. Ademais, acentua-se a curvatura secundária cervical da coluna vertebral no quarto mês.


As fontanelas laterais posteriores geralmente estão fechadas ao 6º mês de vida, assim como a fontanela posterior, formando o lambda (ponto craniométrico); até essa data é esperado um crescimento de 10 cm no perímetro cefálico em relação ao de nascimento. Nesta mesma época, há o início da erupção de dentes decíduos, começando pelos incisivos centrais inferiores. A epiglote se encontra ao mesmo nível do dente do áxis.


Aos 9 meses, o ictus cordis é palpável no 5º espaço intercostal esquerdo, fora da linha hemiclavicular.


No 1º ano de vida ocorre a ossificação da cabeça, tubérculo maior e capítulo do úmero. Os pontos craniométricos ptério e astério já se encontram formados. Já se torna perceptível a curvatura secundária lombar; ocorre, também, o início da deiscência da epiglote. A traqueia começa a aumentar seu diâmetro, que, em milímetros, deve corresponder a idade em anos. No sexo masculino, comum persistir hidrocele até essa idade.


Aos 2 anos há fechamento da fontanela anterior, formando o bregma (ponto craniométrico). Já são observadas as áreas esponjosas do processo mastoide e este se expande até a lateral do crânio. Já são visualizados os seios paranasais: as células etmoidais e seios esfenoidais.


Até os 5 anos, as amígdalas são hipertrofiadas e sem sinais flogísticos (exceto em casos de infecção).


Aos 6 anos ocorre o fechamento da sutura metópica. E, aos 7 anos, os seios frontais e maxilares começam a ser visíveis; o ictus cordis passa a ser palpável no 5º espaço intercostal esquerdo, na linha hemiclavicular.


Aos 8 anos há substituição dos dentes decíduos pelos permanentes, começando pelos incisivos. Inicia-se, também, a ossificação do pisiforme, último osso do carpo a passar por esse processo.


Durante a puberdade ocorre desenvolvimento quase total dos seios paranasais (o seio maxilar pode continuar sendo expandido na vida adulta). O timo atinge seu tamanho máximo, apresentando em torno de 30 a 40 g, ao início da puberdade, e, ainda nessa época, começa a regredir e ser substituído por tecido adiposo. O estômago atinge capacidade gástrica de 1000 mL. No sexo feminino, o útero deixa de ser um órgão abdominal e passa a se localizar na cavidade pélvica. No sexo masculino, a próstata dobra de tamanho. Ademais, esse período se caracteriza por alterações como estirão puberal, desenvolvimento gonadal, de órgãos reprodutivos, e características sexuais secundárias; no sexo feminino ocorre por volta dos 13 anos, e no sexo masculino, 14.


Referências:

D’ANGELO, J. G., FATTINI, C. A., Anatomia humana sistêmica e segmentar. 3ª edição. São Paulo: Atheneu, 2007.

GARDNER, E., GRAY, D. J., O’RAHILLY, R., Anatomia: estudo regional do corpo humano. 3ª edição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1971.

MOORE, K.L., DALLEY, A.F., Anatomia orientada para a clínica. 5ª edição. Rio de janeiro: Guanabara Koogan, 2007.

TAVANO, Patrícia Teixeira. Anatomia do recém-nascido e da criança: características gerais. Ensaios e ciência: ciências biológicas, agrárias e da saúde, vol XXII, n1, 2008, p63-75. Universidade Anhanguera. Campo Grande, Brasil.

VERAS, Gladyanny. Semiologia pediátrica. 2015. Aula.

611 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comments


bottom of page