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Diário de Anatomia: Eduardo de Aquino Médici

Em meu primeiro período da faculdade, minha primeira aula fora de Anatomia A. Lembro-me que os primeiros minutos foram muito prazerosos quando o professor nos parabenizou e começou a mostrar imagens do Netter 6º edição em seus slides, era tudo muito novo e aquecedor saber que finalmente uma nova etapa em minha vida havia começado. Após esse curto período, o primeiro choque do dia foi perceber que aquilo que o professor comentava como curiosidades da matéria que viria eram, em realidade, a matéria da primeira aula, a qual, aliás, parecia ser alienígena.


Meu sofrimento acabara após uma longa aula de aproximadamente 2 horas, sendo até o momento uma das aulas que mais tomei anotações e improvisei desenhos em folhas soltas, as quais pegava fugazmente de meu fichário para não perder palavras tão fracamente pronunciadas. Nesse momento, perguntara-me se haveria mais sustos em meu dia. Realmente haveria.


Fui para a aula prática. Ao entrar no laboratório, deparei-me com mais de 10 cadáveres, o que não me espatou. O meu espanto foi ser informado que 160 pessoas deveriam ficar em 2 laboratórios, onde apenas um punhado de monitores nos auxiliariam a entender aquela matéria pela primeira vez. Abençoados sejam os monitores que desbravam a primeira aula prática com seus calouros. Lembro de ficar por 30min sob a ponta de meus pés para ver um monitor rodeado por mais de 20 colegas apontar forames no crânio humano. Apenas suponho quais eram.


Após 1h, mal conseguia manter minhas lágrimas em minhas glândulas lacrimais por conta do formol e da ansiedade em imaginar o que viria ainda naquela semana inicial. Fui almoçar, quando descobri que comeria em um dos restaurantes universitários mais caros do país, e não conseguia parar de imaginar o quanto as linguiças em meu prato se assemelhavam com os dedos dos cadáveres há pouco. Comi sem dar mais corda a esse pensamento.


À noite, em meu quarto, peguei meu Sobota e um pdf do Moore 6º edição e comecei a estudar os ossos do esqueleto axial pela primeira vez, montando com meus resumos e rabiscos um livro que chegaria a mais de 170 páginas. Foi a matéria que mais estudei na faculdade, sendo até hoje uma das minhas piores notas finais. Não me arrependi, aprendi com essa matéria um dogma entre meus colegas: 60 é 100. Mas, não significa que fiquei satisfeito.


No semestre seguinte, tive a oportunidade de tentar entrar na LANAC, não consegui, não alcançando a nota de corte. Nesse ponto, firmei em minha mente que algo como monitoria de anatomia estaria fora de cogitação. Após um ano, teria nova oportunidade, então me preparei e passei na segunda tentativa. Ainda não estou satisfeito, mas estou feliz por me sentir assim, creio que a vontade de buscarmos ser melhores é muito importante em nossas vidas, principalmente nessa fase. Devo à anatomia esta conclusão tão importante e espero que meus leitores encontrem alguma anatomia que os ensine sobre o desejo de se superar.

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