Todo conhecimento é transformador. Obviamente, o conhecimento anatômico não foge à regra, pois um impacto pessoal ocorre desde o primeiro contato com a matéria até cada nova informação descoberta.
A primeira experiência com a anatomia gera uma reflexão importante sobre a vida, a morte e a função da profissão médica. O primeiro contato com o cadáver acarreta o pensamento sobre a efemeridade da vida e sobre como um ato de altruísmo do doador possibilita que a prática médica seja realizada de modo mais eficaz. Além disso, há um grande impacto sobre como a doação de algo precioso, como, por exemplo, o último bem que lhe resta — o seu corpo — exerce papel transformador. Esse fato demonstra que a morte como fato universal é encarada de modo bastante individual o que é surpreendente uma vez que escancara a essência da individualidade humana.
Ao decorrer do tempo, acontecimentos tão surpreendentes e incríveis como o primeiro contato são frequentes. Para mim, é imensa a satisfação de verificar o trajeto de um nervo ou a formação de anastomoses e perceber que o que está descrito em um livro apresenta uma grandeza beleza no estudo prático. Ademais, mesmo que seja frustrante em alguns momentos não conseguir reter a grande gama de informações é recompensador conseguir utilizar o conhecimento aprendido no cotidiano.
Portanto, estudar anatomia é fascinante, e, apesar de que em alguns momentos pareça ser uma tarefa hercúlea, os versos de Fernando Pessoa revelam que: “Tudo vale a pena quando a alma não é pequena. Quem quer passar além do bojador tem que passar além da dor”.
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