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O uso da imunofluorescência na ressecção de tumores cerebrais

Emanuelle Lamas Rocha, acadêmica de medicina da Universidade Federal de Minas Gerais


Tumores cerebrais


Os tumores referem-se a um crescimento anormal de células, podendo ser benigno ou maligno, quando possuem capacidades infiltrativas. A presença dessa massa pode causar sintomas gerais como dor de cabeça, náuseas, visão turva, problemas de equilíbrio, alterações na personalidade ou comportamento e convulsões ou ainda sintomas específicos de acordo com a região que acometem.

O nível de gravidade pode ser descrito quanto a sua divisão celular, onde a Organização Mundial da Saúde (OMS) classifica os tumores cerebrais e da medula espinhal em 4 graus:



Tabela 1 - Descreve os tumores de grau I a IV, com suas características de crescimento e tratamento. Fonte: da Autora.


Logo, para lidar com essa patologia, existem abordagens observacionais, quimioterápicas, radiocirúrgicas, radioterápicas e cirúrgicas. Nesse post, trabalharemos esta última.


Cirurgia de ressecção


A abordagem cirúrgica é feita pela craniotomia, ou seja, é um procedimento que envolve a abertura temporária do crânio. Para que essa técnica seja realizada, é necessário que a localização do tumor não seja muito profunda, esteja em uma área que possa ser removida (áreas como o tronco cerebral, em regra, não são passíveis de operação) e que o paciente tenha condições clínicas de realizar a cirurgia.


Cumpridos esses requisitos, a preparação começa com a raspagem do couro cabeludo da área a ser manejada. Após isso, uma incisão é feita através da pele e, em seguida, utiliza-se uma broca de alta velocidade e uma serra especial para extrair um pequeno fragmento do osso situado acima do tumor. O cirurgião pode então remover o tumor de várias maneiras, dependendo de sua consistência e da quantidade de vasos sanguíneos. Alguns modos pode ser apenas com o bisturi, com dispositivos de sucção simples ou com dispositivos de vácuo. Após o fim dessa etapa, reinsere-se o retalho ósseo no paciente, concluindo a operação.



Imagem 1 - Mostra o processo de craniotomia, com o couro cabeludo (scalp) incisionado e retraído, músculos (muscle) rebatidos. Ademais, mostra a remoção de um retalho ósseo (skull piece), o que permite visualizar a dura-máter (dura) aberta, gerando acesso ao cérebro (brain). Fonte: https://www.childrens.health.qld.gov.au/fact-sheet-craniotomy/


Nesta técnica, o cirurgião tenta remover o máximo possível do tumor, mas sem causar qualquer dano ao paciente, visto que a remoção de tecido saudável pode gerar lesões cerebrais que causam desde uma paralisia parcial a alterações na sensibilidade, fraqueza e deterioração intelectual.

Contudo, essa situação gera uma dificuldade significativa em realizar a ressecção completa do tumor, muitas vezes permanecendo áreas periféricas, chamadas de “bordas”. Essas regiões, por serem limítrofes, dificultam sua identificação por terem aparência macroscópica normal e, pela proximidade com áreas funcionais, falsamente indicarem que são tecido saudável em alguns medidores. Porém, a não remoção dessas bordas do tumor gera aumento significativo da chance de regressão do câncer, colocando a saúde futura do paciente em risco. Diante dessa situação, surge a importância dos métodos de marcação das áreas anormais.


Imunofluorescência


Esta técnica permite a visualização de antígenos nos tecidos por meio do uso de anticorpos específicos, marcados com fluorocromo, capazes de absorverem a luz ultravioleta e emitirem-na em determinado comprimento de onda, permitindo sua observação.


Ela pode ser realizada em três formas distintas: específica, não específica e autofluorescência. A fluorescência específica deve-se à reação antígeno-anticorpo, ou seja, a reação entre o substrato e a proteína marcada. A fluorescência não específica deve-se à coloração dos tecidos por corante livre ou proteínas fluoresceinadas. A autofluorescência ocorre devido à fluorescência natural dos tecidos quando expostos à luz ultravioleta.


Imagem 2 - Expressão proteica de CXCR7 por imunofluorescência em células de glioblastomas, demonstrando marcação fluorescente em verde de CXCR7 no citoplasma celular e alguns poucos núcleos com granulação fluorescente também no núcleo. Evidencia-se marcação inequívoca granular de CXCR7 na membrana plasmática das células tumorais nos cortes celulares. Os núcleos apresentam-se contra-corados com DAPI em azul.


Assim, essa técnica tem encontrado espaço e valor na marcação de tumores cerebrais, pois estes são formados por células morfologicamente alteradas. Elas possuem uma produção proteica extremamente exacerbada, o que, ao interagir com a imunofluorescência, gera uma reação muito mais intensa do que em tecidos saudáveis, permitindo conhecer as extensões completas do tumor.

Assim, embora seja uma técnica recente, ela apresenta elevado potencial por permitir uma extração mais completa, gerando melhor sobrevida para o paciente e reduzindo as chances de regressão tumoral.


Referências:


  1. https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/5/5138/tde-01112013-122908/publico/AndredeMacedoBianco.pdf

  2. https://teses.usp.br/teses/disponiveis/85/85131/tde-02122014-143353/publico/2014OliveiraDesenvolvimento.pdf

  3. https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/5/5138/tde-17112016-164342/publico/ThaisFernandadeAlmeidaGalatro.pdf

  4. http://www.oncoguia.org.br/conteudo/tipos-de-tumores-cerebrais-snc/894/293/

  5. https://www.msdmanuals.com/pt/casa/dist%C3%BArbios-cerebrais,-da-medula-espinal-e-dos-nervos/tumores-do-sistema-nervoso/alguns-tumores-cerebrais-espec%C3%ADficos#v39502208_pt

  6. http://portalsbn.org/manualsbn/2016/09/04/ii-c-codigos-de-procedimentos-neurocirurgicos-principais/

  7. https://neurocirurgia.com/tumores-intracranianos/

  8. http://www.oncoguia.org.br/conteudo/cirurgia-para-tumores-cerebrais-snc/887/295/#:~:text=O%20objetivo%20da%20cirurgia%20no,tratar%20poss%C3%ADveis%20complica%C3%A7%C3%B5es%20do%20tumor.

  9. https://www.scielo.br/pdf/abd/v85n4/v85n4a10.pdf

  10. https://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/23752/1/10927_Tese.pdf


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