Victor Michel Daoud
Graduando do curso de Medicina, FMUFMG
A Síndrome do Desfiladeiro Torácico (SDT) se refere a um conjunto de sintomas provocados pela compressão das estruturas neurovasculares na região do desfiladeiro torácico. Os sintomas dependem do tipo de compressão existente, que pode ser nervosa ou vascular podendo ocorrer desde formigamento e perda de força até alterações de colorações do membro superior e de pressão arterial periférica. Esse problema é mais frequente em mulheres, devido, em parte, à anatomia feminina que acaba provocando maior tensão na musculatura da região.
A anatomia da região do desfiladeiro torácico
O desfiladeiro torácico, de maneira geral, é um espaço estreito constituído pela primeira costela, artéria e veia subclávias, plexo braquial, clavícula, músculos escalenos anterior e médio, músculo subclávio e peitoral menor. A artéria subclávia direita se origina do tronco braquiocefálico, e a esquerda, do arco aórtico. Ambas passam por trás da clavícula ao se direcionarem para os respectivos membros.
Figura 1 Anatomia do desfiladeiro torácico. Os círculos na figura representam os pontos de compressão. Ellepigrafica/Shutterstock.
Os locais clássicos de compressão pela SDT são três, principalmente: a região do triângulo intercostoescalênico (entre os músculos escalenos e a costela), o espaço subcaracoide/ retropeitoral (entre o peitoral menor e a clavícula) e o triângulo costoclavicular (entre a clavícula e a costela). No triângulo intercostoescalênico, a compressão normalmente é exercida pelo músculo escaleno anterior.
A SDT é classificada em dois grupos principais: o vascular, com a compressão da veia e/ou artéria subclávia e o neurogênico (mais comum – responde por 95% dos casos), com acometimento das fibras do plexo braquial.
Figura 2 Ilustração anatômica do plexo braquial identificando as áreas as raízes, troncos, divisões e os cordões. Wikipedia.
Aspectos Clínicos da Síndrome do Desfiladeiro Torácico
A SDT está relacionada a diversas causas, dentre elas as anormalidades ósseas (como por exemplo o desenvolvimento de costela cervical), tumores, alterações musculares que podem ser resultantes de movimentos repetitivos ou de acidentes, alterações no processo coracoide e a presença de bandas fibrosas. Essas variações diminuem o espaço por onde o plexo e os vasos passa, provocando assim a sua compressão.
Os sintomas da forma neurogênica incluem fraqueza, adormecimento, parestesia e dor no membro superior acometido. A forma venosa habitualmente se apresenta com edema e dor intensa. A forma arterial, por sua vez, cursa com dor não radicular, frialdade do membro e palidez.
Testes específicos são utilizados na avaliação clínica do paciente. Dentre eles, pode-se mencionar os três seguintes:
- Manobra de Adson: é realizada por meio da palpação do pulso radial, extensão dos cotovelos, elevação do membro superior e rotação ipsilateral da cabeça enquanto o paciente realiza inspiração profunda. O teste pode produzir a perda do pulso radial mas não pode, sozinho, confirmar o diagnóstico de SDT, uma vez que 40% das pessoas sem sintomas podem ter desaparecimento do pulso apenas movendo o braço para longe do corpo.
Figura 3 Representação esquemática da manobra de Adson. Disponível para acesso em: /https://semiologiasobral.wordpress.com/2015/06/29/teste-de-adson/
- Teste de Ross: é realizado com o membro afetado em abdução de 90º e flexão do cotovelo a a 90º enquanto o paciente realiza movimentos de abrir e fechar as mãos lentamente por três minutos. O teste constringe o espaço costo-clavicular, fazendo com que o paciente se torne incapaz de realizá-lo no tempo mínimo.
- Teste de Wright: é realizado pela hiperabdução e rotação externa do membro afetado, enquanto o paciente rotaciona a cabeça para o lado contralateral, sendo positivo com a obliteração total ou parcial do pulso radial.
Vale ressaltar a importância de combinar as manobras com uma abordagem da história clínica do paciente para uma maior acurácia diagnóstica.
Para a maioria dos casos de SDT, o mais indicado é o tratamento conservador. Ou seja, recomenda-se o alívio dos sintomas com os analgésicos e anti-inflamatórios, a mudança no estilo de vida e a fisioterapia, por exemplo. Em caso de não resolução dos sintomas, só então o procedimento cirúrgico é recomendável, o qual consiste na descompressão dos pontos anatômicos com a ressecção das estruturas que estejam levando à compressão
REFERÊNCIAS
[1] Moore R, Wei Lum Y. Venous thoracic outlet syndrome. Vasc Med. Acesso em: 11 de agosto de 2020.
[2] Czihal M, Banafsche R, Hoffmann U, Koeppel T. Vascular compression syndromes. Vasa. Acesso em: 11 de agosto de 2020.
[3] Grunebach H, Arnold MW, Lum YW. Thoracic outlet syndrome. Vasc Med. G. Acesso em: 11 de agosto de 2020.
[4] Franklin GM. Work-related neurogenic thoracic outlet syndrome diagnosis and treatment. Phys Med Rehabil Clin N Am. Acesso em: 11 de agosto de 2020.
[5] Kuhn JE, Lebus V GF, Bible JE. Thoracic outlet syndrome. J Am Acad Orthop Surg. Acesso em: 11 de agosto de 2020.
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